Sempre achei que escrever um livro dava uma enorme trabalheira e inquietação, como: paciência, atenção, criatividade etc.
Entretanto após ler vários livros e observar que alguns autores repetem, com outras palavras é claro, as mesmas ideias e assim mesmo são bem aceitos, alguns se tornam até “Best Sellers”. Resolvi escrever este, até porque com mais da metade de um centenário de vida e já ter passado daquela fase em que se acha que o trabalho e competição social são tudo na vida, isto é, a tão falada posição social. Muitos ainda buscam isto, mas podem ter certeza, não vale à pena.
Hoje a minha preocupação é desfrutar a vida, contemplá-la, vivê-la, já escreve “Aneslm Grum” “ A vida é uma oportunidade; você pode usá-la, pode abusar dela, ou simplesmente desperdiçá-la, excetuando você mesmo, ninguém será responsável”.
O tema “Antes que eu me esqueça”, vem bem a propósito, deveria ter escolhido outro, por exemplo, memórias, todavia achei esse tema adequado por uma simples razão, esquecemos de muitos fatos de nossas vidas, acontecimentos bons e ruins, entretanto aprendi na prática o que a Bíblia já ensina há mais de dois mil anos, que "tudo contribui para o nosso crescimento interior".
Um desses acontecimentos que eu jamais esquecerei é a CADEIRA DO MEU PAI, ela tem muito dele, quer dizer era um de seus hábitos, sentar nela toda tarde a partir das 17:00h. Na verdade meu pai era formado em pesquisar a vida dos outros, coisa que alguns acham outro nome. Dessa forma ele colocava alguns codinomes (apelidos) as pessoas com os quais ele mantinha relações de amizades, por exemplo: “Chapeuzinho, pisa-manso, mão-de-sêpo, Cosama (título da Companhia de águas do Amazonas), entre outros. Este último era de uma mulher que deveria, na época, ter uns 60 anos e ela freqüentava assiduamente um BAR que tínhamos lá no Bairro da Glória. Devo explicar que bar era o nome dado na década de 60 aos recintos que vendiam cervejas, cachaças, várias bebidas alcoólicas, com muitas mesas - o nosso Bar tinha umas 60mesas - onde os frequentadores se sentavam a bebericar as suas bebidas preferidas ao som de algum cantor que os fizessem chorar de tanta tristeza, na verdade para melhor entendimento podemos chamar o local de “zona”. Pra se ter uma ideia da nossa clientela, cada desavença que havia era rara as vezes que sobrava uma ou duas mesas inteiras. Dito isso, eu com meus 14 anos, ingênuo diga-se de passagem, perguntei ao meu pai: Por que o apelido de COSAMA ?, num instante em que a mulher ia passando para o sanitário, este próximo do nosso balcão, ele esperou um pouco e respondeu assentindo com a cabeça - escuta o barulho! - na verdade o som que escutei foi de como se tivessem aberto uma torneira de ¾”, concordei com o apelido. Os outros apelidos tem as suas histórias, mais isso é assunto para outro parágrafo. Na verdade meu pai tem mais histórias do que eu, umas que presenciei e outras apenas ouvi falar, mas, deviam ser verdade porque o velho era bem vivido.
Certa feita ele me disse: - meu filho, não tenha medo da vida faça como eu, cheguei aqui em Manaus sozinho, sem ninguém da família que pudesse me ajudar, mas não passei fome não, ia lá pro mercado do centro da cidade (escadaria) entrava pelo lado que tinha banana, fazia que estava interessado em comprar e experimentava 3 ou 4 bananas de diferentes vendedores, o mesmo fazia com a farinha, que ficava do outro lado das bananas, no final do percurso tomava um copo de água e no fim estava com a barriga cheia e isso era quase todo dia até arranjar um trabalho-.
Pois bem, quando meu pai faleceu fiquei com a cadeira de balanço dele que fazia parte da sua pesquisa lembra? Ele se sentava toda tarde em frente de casa e ali iniciava as suas observações. Hoje em dia me dou conta, que as vezes, faço a mesma coisa e aprendi muito com o mestre, o personagens dos contos são fictícios, todavia a histórias e codinomes são verdadeiros. Essas histórias embora hilariante, procuro obter delas verdadeiras atitudes e conceitos sobre a vida, e de como encarar os acontecimentos de forma positiva. Sendo este também uma das razões relevantes do porque escrever estes contos.
A CADEIRA
Uma colher de café é o suficiente, bem cheia, é só para mim, gosto dele com água bem quente sem ser fervida, após ser coado fica mais saboroso e cheiroso, pronto para uma degustação e contemplação, sobretudo ao final da tarde.
Olho para o relógio, está lá em cima, onde estou, na cozinha, parte superior entre duas janelas de estilo colonial inacabada, isto é, falta o reboco em volta das mesmas, elas dão de frente para a porta principal da casa. São aproximadamente 17:50h, apresso-me para coar o café, enquanto isso, procuro a minha toalha de banho, pois é ela que normalmente coloco no encostado da cadeira de balanço. Isso mesmo ali está ela, a cadeira de balanço do meu pai que agora é minha e, é revestida do que se chama (aqui em Manaus) de “macarrão”, talvez pela semelhança dos fios de plásticos que revestem as cadeiras desse tipo, com os fios de macarrão, entretanto não é uma cadeira comum como encontramos hoje, quero dizer que as cadeiras atuais embora muito bonitas são muito frágeis, o ferro que a constitui são daqueles com os quais se constrói colunas residenciais (vergalhão 3/16). Quando estava com meu velho era azul. Após 4 anos de falecido numa das visitas que faço sempre a minha mãe eu a vi, abandonada, toda suja jogada mesmo num canto da casa, entretanto o ferro ainda estava e está bem conservado, contudo, os cordões de plásticos estavam quase todos arrebentados. Com a permissão da minha mãe , trouxe-a para casa, pintei-a de vermelho e a revesti com fio da mesma cor e agora ela me acompanha também a fazer boas amizades, como também algumas decepções.
A minha casa é bem simples, quase sucumbida pelas árvores que estão na sua frente, descrevo: uma árvore semelhante a uma pitombeira bem à esquerda, bem próximo a ela uma goiabeira, acerola, na mesma direção à direita, 1,5m de distância; araçá-boi (uma espécie de goiaba, muito azeda) a uns 3,0 m, na mesma direção à direita; ao seu lado uma porta de 1,20m e em seguida a garagem, que tem sobre ela uma trepadeira que dá flores vermelhas muito cheirosa, que a minha esposa dedicou a Nossa Senhora, tudo isso numa frente de muro de 10,0m de largura, constituído de 1,0m de concreto revestido de lajota marrom e a altura é completada com grades com estilo de flexa, pintada de vermelho. O sol se põe pelo lado da frente, proporcionando sombra da aceroleira na calçada, com 1,10m de altura, defronte a rua. É ai que coloco a cadeira a partir das 17:30h, tomando um cafezinho contemplando tanto a beleza do por do sol e as nuvens avermelhadas, como as tapumas brancas e cinzentas das tardes nubladas, com o cheirinho de mato molhado. Sentado ali fico observando as pessoas e carros que vem e vão, fico ali muitas vezes até as 19:00h, quando, às vezes, passo despercebido, razão a sombra da aceroleira, apesar da luz que fica no poste bem a esquerda da minha casa do outro lado da rua.
CHICO MANTA
Precisamos acreditar na força interior e infinita dada por DEUS, ou melhor “TUDO É POSSÍVEL AQUELE QUE TEM FÉ”.
Cabelos bem grisalhos - nunca perguntei a sua idade, mas deve ter entre 50 a 60 anos -, cor amarelada, queimada pelo sol, conseqüência da profissão de pedreiro, tem 1,60m aproximadamente e é evangélico. Esse é o “Chico Manta”, que conheço há uns 3 anos. Quando vai para a igreja, normalmente aos sábados, pela manhã, veste-se como um doutor: camisa de punho e calça de tergal, quando passa por mim, normalmente entre 8 e 9hs. Eu indago;
- E ai Chico! Tudo bem?
- Tá sim!
- Vai pra igreja?
- Vou, sabe como é, temos que agradecer o nosso “DEUS”
- É verdade Chico!
As vezes ele para um pouco, questão de 15 à 20 minutos e então fala sobre seus clientes:
“Rapaz! Tu sabes! Fui fazer um orçamento pra uma doutora lá no centro, já fiz muito trabalhos para ela, OH mulherzinha difícil de se fechar um negócio. Você me acredita que ela me chamou para reformar uma sala lá no centro (de Manaus), na rua 24 de Maio; fui só pra ganhar o do peixe, pra não ficar sem trabalho, pelo tamanho da reforma, cobrei R$ 8.000,00, se cobro menos eu é que ia pagar pra trabalhar. Você me acredita que ela tirou daqui, dali, cortou isso e aquilo até chegar a R$ 3.000,00, - franziu a testa! -, vou ter que fazer sozinho, sem ajudante, pra ver se sobra ao menos o do transporte.
O Chico é assim, conhece muita gente influente, para os quais presta serviço: doutor, comerciante, médico, advogado e até pastor da sua religião, mais deixa soltar entre uma palavra e outra: “Rapaz, ô gentinha pra gostar de ganhar dinheiro nas costas dos outros!, pra pagar um trabalho, ô dificuldade, paga chorando e resmungando!
Lá vai o Chico pra sua igreja, talvez procurando respostas para entender as pessoas que tentam usurpá-lo no dia a dia.
Passei algum tempo sem ver o Chico, coisa de um mês e meio. Certo dia sua mulher ia passando, perguntei?
- Cadê o homem?
- Ah seu menino, está operado , é hérnia bem no pé do umbigo, tá com duas semanas parado, tá lá jogado numa cama, não pode andar direito o senhor sabe!, subir essa ladeira é muito difícil pra ele.
Explico a rua: A rua onde moro, tem um formato côncavo, eu moro na parte alta e o Chico no início da ladeira, pro lado direito a onde coloco a minha cadeira.
- Mande um abraço pra ele, desejando-lhe pronto restabelecimento, "falei!”. E fiquei pensando, como ele vai conseguir manter a família, pois vive das empreitadas que faz no dia a dia, e inválido do jeito que estava, tudo ia ficar mais difícil. A mulher sofre de diabetes, só vive doente e não pode ajudá-lo.
Passado uma semana, desde a última vez que falei com a sua mulher, numa manhã de segunda-feira, por volta das 10:00h, tinha acabado de chegar da caminhada que faço todos os dias, estou lá sentado em frente de casa, olho para minha direita, a uns 60m subindo a rua, com muita dificuldade e com passos bem lentos, se arrastando mesmo, esse é o termo, fazendo muita careta; lá vem o Chico Manta, me deu dó de vê-lo naquela situação, segurando a barriga com as duas mãos, parecendo e querendo mesmo proteger o lugar da operação, um pouco pálido e com a barba crescida e esbranquiçada, tinha aparência muito abatida. Chegando perto de onde estava disse:
- Vou descansar, para ver se consigo andar mais um pouco!
- Argumentei! "Chico aonde tu vai cara, não estas recuperado"!
- É seu Mário, tenho que ir procurar alguma coisa para comer, lá em casa não tem nada e estou sem poder trabalhar; a situação está tão difícil que dá até vontade de desistir. O senhor sabe não parece um parente, um amigo, nem pra saber se eu já morri, quanto mais pra saber se tenho o que comer, vou ver se chego até a dona “Ane” (Dona de um supermercado) vê se ela me ajuda, “me fiando (termo popular, que se aplica para quem vende para receber depois) um ranchinho!".
Olhei para ele sem saber o que lhe dizer, diante de tamanha desmotivação, conseqüência da situação em que se encontrava, queria dizer-lhe alguma coisa que o animasse para reverter aquele quadro, foi quando de repente me lembrei do “Eclesiastes” é um livro da Bíblia que todos os anos releio, logo no mês de Janeiro e a cada releitura aprendo mais ensinamentos, não é que eu seja um religioso fanático e nem praticante, mas acho um livro muito sábio e cada vez mai atual apesar de haver sido escrito há mais de 2.000 anos. E uma das sabedorias que está no livro é enfatizar que “Tudo tem o seu tempo; tempo pra rir, chorar, gemer, se divertir...”; falei isso pro Chico! E acrescentei, - isso vai passar-, quando você olhar pra trás (quando o tempo passar), estando sadio e trabalhando você vai se lembrar e dizer: Puxa estou sadio, subindo a rua quase correndo, nem parece que um dia desses eu estava tão ruim de saúde. Isso que falei, quase como um “insite”, serviu também para me relembrar que tudo na vida passa, a felicidade, a dor, a tristeza, por isso, como diz o "Eclesiates" temos que viver o presente, o agora; a eternidade se manifesta quando se vive a plenitude do presente.
Ele me olhou e com um leve sorriso, como que se lembrando do que estava guardado lá no seu íntimo e me respondeu: “É MESMO SEU MÁRIO, COM JESUS É SÓ VITÓRIA”. Eu o olhei e senti que por um pequeno instante, no meio de toda aquela agrura, havia acontecido um momento de felicidade, a esperança surgiu, a luz no fim do túnel apareceu, aquela luz que ilumina os nossos caminhos, alguma coisa havia acontecido a partir do nosso diálogo, alguma coisa que nos intuía: “Vá, vá em frente sem medo, eu lhe guio, sei da sua fragilidade, deixa que eu lhe protejo, lhe guardo, não tenhas medo”, foi então que me lembrei de uma frase que não sei o autor mas que me dá muita força também: “Está com medo?, não olhe para frente com medo, olhe para o alto com fé”.
Após o nosso diálogo o Chico foi se retirando, já não parecia mais o mesmo de alguns instantes atrás, nem mesmo se arrastava, caminhava com certa dificuldade, mas notei que o seu ânimo era outro, então lhe disse: “Ei Chico, gostei da sua frase - COM JESUS É SÓ VITÓRIA”.
Eu guardei a sua frase comigo, mais uma com certeza, mais essa tinha um nome de alguém, que nos ensinou a viver com esperança, alguém que passou por todas as dificuldades, foi perseguido, torturado, injustiçado, tinha poder, entretanto nunca usou a seu favor, a sua arma, contra aqueles que os tinha como inimigo era o PERDÃO.
O Chico me fez refleti que nós temos todos os antídoto para os momentos difíceis que passamos na vida, todavia, as vezes é necessário que alguém nos lembre daquilo que está guardado no nosso mais profundo íntimo e do que aprendemos e a partir daí passamos a encarar a vida de maneira mais leve e feliz, desfrutando-a e assimilando apenas o seu lado bom, agradecendo a DEUS pelos momentos difíceis, porque é neles que vamos colher os mais firmes ensinamentos. Aliás “Paulo já escrevia: “TUDO CONTRIBUI PARA AQUELES QUE ACREDITAM EM DEUS”
Entrei para minha casa, olhei para o tempo, esperando que não chovesse a tarde, pois estaria ali na calçada com a minha cadeira desfrutando a vida e os momentos que nos são proporcionados e com certeza relembrando e aprendendo cada vez mais entre um gole e outro de café.
E a vida em si e uma grande professora quanto
ResponderExcluirmais vivemos mais aprendemos,com Jesus fica
bem mais facil!!!